Arizona Tribune - Gangues do Japão recrutam criminosos on-line

Gangues do Japão recrutam criminosos on-line
Gangues do Japão recrutam criminosos on-line / foto: Richard A. Brooks - AFP

Gangues do Japão recrutam criminosos on-line

Risa Yamada cresceu órfã e sofreu para encontrar um trabalho estável até que se deparou com uma das muitas ofertas de emprego publicadas nas redes sociais por grupos criminosos.

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Contratada para se passar por agente de polícia, Risa prosperou com ligações telefônicas nas quais tirava centenas de milhares de dólares de idosos solitários, ricos e ingênuos.

"Não acreditei que algum dia pudesse trabalhar em um emprego normal", disse em julho a mulher de 27 anos em um tribunal de Tóquio que a condenou a três anos de prisão.

"Pela primeira vez na vida me disseram que eu era boa em algo (...) O trabalho fazia com que eu me sentisse útil", admitiu.

A jovem não é a única a ter sido seduzida pelos "yami baito" (um mercado clandestino de trabalhos de meio período) oferecidos na rede social X e outras plataformas.

No submundo da criminalidade no Japão, as redes sociais oferecem um método para entrar em contato com qualquer pessoa, de adolescentes a aposentados, disposta a cometer um crime para ganhar dinheiro.

Em 2022, os prejuízos provocados por gangues do "yami baito" e outras organizações de práticas fraudulentas aumentaram 30% em relação ao ano anterior, chegando a 37 bilhões de yenes (cerca de 250 milhões de dólares ou 1,2 bilhão de reais), a primeira alta em oito anos.

- "Como um jogo" -

Estes anúncios costumavam ser divulgados em revistas ou banheiros públicos.

Sua proliferação on-line permite aos recrutadores "relaxarem em um cômodo climatizado, saborear um café ou usar o celular para reunir um grupo de ladrões", disse Noboru Hirosue, sociólogo que estuda o tema.

Além disso, as plataformas on-line, especialmente os aplicativos de mensagens criptografadas como Telegram e Signal, ajudam as gangues permaneceram anônimas e difíceis de rastrear.

Um ex-contratado por estes grupos explica que seu supervisor o orientava através do Telegram a deixar pacotes de dinheiro ilícito em armários de estações de trem.

"É como um jogo: te dão tarefas, você conclui missões e ganha recompensas", disse o homem de 57 anos que, após um tempo na prisão, trabalha em um albergue.

No final de cada jornada, mensagens anônimas no Telegram lhe agradeciam pelo trabalho e informavam onde estava escondido o pagamento do dia.

"Nem mesmo nos sentimos culpados porque não vemos ninguém", disse o homem, sob anonimato.

Em janeiro, uma mulher de 90 anos morreu em Tóquio após ser amordaçada e espancada em casa por homens que procuravam algo de valor. Os autores foram contratados virtualmente, segundo a imprensa. Os mandantes eram de um grupo de japoneses nas Filipnas que usaram o Telegram para dirigir subalternos em assaltos e fraudes no Japão.

Os motivos para aceitar estes trabalhos são variados. Um ex-integrante de uma organização dedicada a fraudes disse que seu objetivo era "ganhar dinheiro extra para ficar um pouco louco".

Vestido com um terno, ele se fazia passar por bancário, visitava casas de idosos e os convencia a entregar seus cartões de crédito. Em poucos meses ganhou quase 10 milhões de yenes (66 mil dólares ou 323 mil reais), disse à AFP o homem de 31 anos.

- Exploração -

Os recrutados são "explorados e usados como peões" pelos líderes das organizações, disse a Agencia Nacional de Polícia em comunicado à AFP. Das quase 13.100 pessoas presas por fraude organizada entre 2018 e 2022, apenas 2% ocupavam altos cargos na hierarquia destes grupo, segundo dados da polícia.

Há também muitas histórias de pessoas obrigadas a revelar informações particulares e de suas famílias, incluindo endereços, caso deixem a organização.

A AFP não conseguiu contato com a X. O Telegram informou que vigia "de maneira ativa" as partes públicas da plataforma e que os usuários podem denunciar conteúdos ilícitos em grupos privados.

R.Lee--AT