Arizona Tribune - Equador enfrenta crise diplomática após invasão de embaixada do México em Quito

Equador enfrenta crise diplomática após invasão de embaixada do México em Quito
Equador enfrenta crise diplomática após invasão de embaixada do México em Quito / foto: Rodrigo BUENDIA - AFP

Equador enfrenta crise diplomática após invasão de embaixada do México em Quito

O Equador se viu envolvido em uma crise diplomática neste sábado (6) devido à rejeição gerada na América Latina pela invasão assalto de suas forças de segurança à embaixada mexicana em Quito para prender o ex-vice-presidente equatoriano Jorge Glas.

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A operação impactante, sem precedentes no mundo, levou o presidente mexicano, Andrés Manuel López Obrador, a romper imediatamente as relações diplomáticas com o Equador. Nicarágua imitou esta ação neste sábado.

Tanto governos de esquerda da região, como os do Brasil, Colômbia, Venezuela e Chile, quanto de direita, como os da Argentina e Peru, condenaram a invasão que culminou na detenção à força de Glas, procurado pela Justiça equatoriana por acusações de corrupção e que se refugiava na sede diplomática mexicana desde dezembro.

Por sua vez, a Organização dos Estados Americanos (OEA) expressou seu repúdio "a qualquer ação violadora ou que ponha em risco a inviolabilidade dos locais das missões diplomáticas", em um comunicado.

O México denunciou "uma violação flagrante do direito internacional" e de sua "soberania". Neste sábado, López Obrador pediu a seus compatriotas "que se comportem com muita prudência para evitar o assédio" em meio à tensão diplomática.

Imagens de sexta-feira mostram militares equatorianos armados e com um aríete em frente à embaixada. Pelo menos um deles escalou a grade que cerca o prédio para entrar e deter Glas, a quem o México concedeu asilo naquele dia, após tê-lo abrigado durante meses.

A Convenção de Viena, que garante a inviolabilidade do território de uma embaixada, foi citada pela maioria dos países que rejeitaram o cerco à sede da missão mexicana.

O presidente do Equador, Daniel Noboa, classificou na sexta-feira o asilo concedido a Glas como "ilícito" e defendeu a operação, alegando um "abuso das imunidades e privilégios" concedidos à missão diplomática. Neste sábado, sua chanceler, Gabriela Sommerfeld, acusou o México de "violar o princípio fundamental de não intervenção nos assuntos internos de outros Estados".

A embaixada mexicana em Quito permanecia cercada por policiais neste sábado, e a bandeira do país havia sido retirada do mastro no pátio, constatou um fotógrafo da AFP. Segundo o governo mexicano, os diplomatas e suas famílias retornarão ao país em voos comerciais e com o respaldo de "embaixadas amigas".

- 'Golpeado' -

Glas, vice-presidente do Equador durante o governo do socialista Rafael Correa entre 2013 e 2017, tem uma ordem de prisão preventiva por suposto peculato em obras públicas contratadas após o devastador terremoto na costa equatoriana em 2016.

O político de 54 anos foi transferido neste sábado para uma prisão de segurança máxima em Guayaquil (sudoeste), conhecida como "A Rocha", segundo fontes governamentais.

O ex-presidente Correa, exilado na Bélgica desde 2017 e condenado à revelia a oito anos de prisão por corrupção, disse na rede social X que Glas "tem dificuldades para caminhar porque foi golpeado. Tudo isso é uma loucura".

O México qualificou a operação como "brutal" e denunciou "violência física" contra o chefe de missão, Roberto Canseco, que foi imobilizado no chão por um militar enquanto tentava evitar a captura de Glas, segundo imagens da televisão equatoriana. O diplomata está "bem", assim como o restante da delegação, indicou Bárcena.

López Obrador elogiou a "dignidade e decoro" do pessoal diplomático que estava na embaixada e anunciou que apresentará uma denúncia à Corte Internacional de Justiça.

- Escalada -

A crise diplomática começou na quarta-feira, quando López Obrador estabeleceu um paralelo entre a violência que marcou a campanha presidencial equatoriana de 2023, durante a qual o candidato Fernando Villavicencio foi assassinado, e a criminalidade que ocorre no México em relação às eleições de 2 de junho.

Segundo o presidente mexicano, o crime de Villavicencio criou um "ambiente envenenado de violência" que provocou a queda nas pesquisas da candidata de esquerda Luisa González e o aumento na popularidade de Noboa, que acabou vencedor.

Crítico contundente do ex-presidente Correa (2007-2017), Villavicencio era conhecido por suas denúncias sobre o fortalecimento do narcotráfico.

O governo de Noboa considerou que esses comentários "ofendem o Estado equatoriano" e expulsou a embaixadora mexicana Raquel Serur, que ainda não deixou o país.

Em resposta, o México concedeu asilo político a Glas na sexta-feira, que estava refugiado em sua sede diplomática em Quito desde dezembro, alegando perseguição política contra ele.

- Condenação -

Noboa "quebrou todos os protocolos de comportamento da diplomacia tradicional", disse à AFP Roberto Beltrán Zambrano, professor de gestão de conflitos da Universidade Técnica Particular de Loja, no Equador.

Os governos de Brasil, Venezuela, Cuba, Bolívia, Honduras, Peru e Chile, entre outros, condenaram neste sábado a operação.

"Toda minha solidariedade ao presidente e amigo López Obrador", afirmou no X o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, cujo governo condenou a ação "nos termos mais firmes".

"[A invasão da embaixada] constitui uma ação que nem mesmo nas ditaduras mais atrozes da região, como a de Augusto Pinochet no Chile ou Jorge Rafael Videla na Argentina, foram registradas", disse o Ministério das Relações Exteriores venezuelano em comunicado.

A Argentina, governada pelo ultraliberal Javier Milei, se uniu "aos países da região na condenação ao que aconteceu ontem na Embaixada do México no Equador".

A.Taylor--AT