Arizona Tribune - Colômbia reativa ordens de prisão contra cúpula da guerrilha ELN após ataque 'brutal'

Colômbia reativa ordens de prisão contra cúpula da guerrilha ELN após ataque 'brutal'
Colômbia reativa ordens de prisão contra cúpula da guerrilha ELN após ataque 'brutal' / foto: Daniel Muñoz - AFP/Arquivos

Colômbia reativa ordens de prisão contra cúpula da guerrilha ELN após ataque 'brutal'

Os líderes da guerrilha do ELN voltaram à condição de fugitivos da Justiça nesta quarta-feira (22), após o Ministério Público colombiano reativar ordens de prisão contra eles, como consequência de um violento ataque que deixou dezenas de mortos e foi classificado como um ato de "crueldade" pelo governo.

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Mais de 30 rebeldes, entre eles "Pablo Beltrán", "Antonio García" e "Gabino", os principais líderes, podem ser capturados no país, que enfrenta uma das piores crises humanitárias e de segurança em mais de uma década.

Na quinta-feira passada, o Exército de Libertação Nacional (ELN) realizou um ataque na região de Catatumbo, na fronteira com a Venezuela, contra a população civil e dissidentes das Farc que não aceitaram o acordo de paz de 2016. O saldo até o momento é de mais de 80 mortos e pelo menos 32 mil deslocados.

O ministro do Interior, Juan Fernando Cristo, afirmou diretamente da cidade de Ocaña, localizada na região do ataque realizado pela guerrilha, que o objetivo do ELN era tomar a fronteira e as rotas do narcotráfico entre os dois países.

Cristo, que classificou o ataque como "brutal", adiantou que o governo está prestes a emitir medidas sobre segurança e outras questões do "estado de comoção interna" declarado pelo presidente de esquerda Gustavo Petro.

O MP havia suspendido os mandados de prisão contra o ELN entre 2022 e 2023 como parte das negociações de paz, agora suspensas por decisão do mandatário colombiano.

- Crianças deslocadas -

A quantidade de deslocados nos últimos seis dias é inédita desde que as Farc depuseram as armas.

A maior parte está concentrada em estádios e outros locais esportivos na cidade de Cúcuta, capital do departamento de Norte de Santander, e Ocaña.

Até esta cidade chegou a indígena wayúu Zilenia Pana, de 48 anos, que fugiu com seus pequenos filhos de 8 e 13 anos.

Quando os confrontos se intensificaram em uma área rural de El Tarra, ela conseguiu apenas colocar algumas roupas em uma bolsa e fugir.

"Rezamos para que tudo se acalme, para voltarmos às nossas casas com nossos filhos, com a família. Isso é o que queremos e o que pedimos a essas pessoas [os guerrilheiros] de coração", disse ela à AFP em um abrigo.

Astrid Cáceres, diretora da entidade estatal que protege os direitos dos menores (ICBF), afirmou à AFP que entre 35% e 40% dos deslocados são crianças e adolescentes.

Além disso, "pode haver" menores de idade entre os mortos, acrescentou.

O Ministério da Defesa informou sobre mais de 5.500 pessoas confinadas em suas casas. As autoridades de Catatumbo não conseguiram realizar patrulhas devido à presença de combatentes da organização de extrema-esquerda nas estradas.

- "Descumprimento" -

O Ministério Público considera que o ataque dos rebeldes de inspiração guevarista constitui um "descumprimento das condições para a suspensão" dos mandados judiciais contra eles.

Em agosto de 2022, poucos dias após assumir o poder, o presidente Petro pediu ao MP que suspendesse os mandados de prisão contra 18 líderes do ELN, entre eles o principal negociador de paz, Pablo Beltrán.

Um segundo grupo de líderes, incluindo o comandante militar Antonio García, se beneficiou da mesma medida em 2023.

A retomada das negociações é uma incógnita. A localização dos líderes do ELN também não está clara, embora tenham participado de algumas negociações em Havana e Caracas.

- "Controle brutal" -

O enviado especial da ONU para a Colômbia, Carlos Ruiz Massieu, afirmou nesta quarta-feira, perante o Conselho de Segurança da ONU em Nova York, que o "vácuo da presença estatal" em áreas remotas facilita o "controle territorial e social".

"Não devemos desanimar, não devemos desistir da paz", declarou à imprensa o chanceler colombiano Luis Gilberto Murillo após a reunião do Conselho na sede da ONU.

A violência coloca em risco a aposta do governo de alcançar o desarmamento de todos os grupos guerrilheiros da Colômbia, uma iniciativa conhecida como "paz total".

Também nesta quarta, a diretora para as Américas da organização de defesa dos direitos humanos Human Rights Watch (HRW), Juanita Goebertus, assegurou, em uma declaração enviada à imprensa, que "a crise de Catatumbo deveria ser um chamado de atenção para a administração de Petro", cuja proposta de paz total, aliada à "falta de políticas eficazes de segurança e justiça, permitiram aos grupos armados expandir sua presença e seu controle brutal" em comunidades rurais ao longo de todo o país.

W.Moreno--AT